segunda-feira, 7 de abril de 2014

À Janela olho o Mundo

Está sol, está chuva. Está calor, está frio. É isto que sinto cada dia que passa, sentado no meu quarto e olhando janela fora. Admiro a paisagem, lá no fundo vejo casas e serra. Na minha rua passam os vizinhos, as mesmas caras conhecidas desde sempre. Cai a noite, as luzes iluminam as ruas e as casas. Iluminam os caminhos, os destinos e guiam as pessoas pela escuridão. Como é bom percorrer a noite, senti-la e observar as luzes lá ao longe. Dão-me uma sensação de conforto, de casa, de paixão, de companhia. A solidão é o meu maior inimigo, consome o meu interior, devora-me e não me permite saborear o verdadeiro prazer da vida. A vida desilude-me, não me dá esperança, alento ou futuro. Estou cansado de trabalhar e não ter o devido reconhecimento. De que vale o esforço se ninguém o valoriza? É uma luta dura, desigual e dolorosa. Para quê perder tempo a pensar, a agir e dedicar-me a algo que não sente o mesmo. Estou sozinho, não tenho com quem falar ou estar, sinto-me ignorado por todos, dói-me o peito, não consigo criar planos de vida, não tenho ninguém ao meu lado. Sinto-me preso, isolado. As pessoas que me rodeiam parecem apreciar coisas fúteis, dar valor a algo que não conhecem mas entendem valorizar, esquecendo privilegiar e colocar em primeiro lugar, aqueles que lhes dão atenção, carinho, presença e tempo. Chamam corajoso àqueles que têm tudo à sua disposição, que se limitam a gerir o que já é seu.  Olham para os outros e chamam-lhes extraordinários, esquecem-se que deste lado existe alguém que luta todos os dias contra o Mundo, que luta na procura de uma oportunidade, numa forma de tornar a sociedade melhor. Sozinho não consigo mudar o Mundo, mas sei que dou o meu melhor para tornar o Mundo melhor. Luto para deixar a minha marca no Mundo, luto para concretizar sonhos, desejo e anseio pela mudança, procuro motivação em palavras, procuro companhia no vazio, todos se afastam, todos ignoram. Continuo a não ser o número um para quem devia. Continuo a ser deixado para trás, espero que essas pessoas não se arrependam das suas decisões e atitudes. Procuro a simplicidade da vida, não sou adepto de luxos. Nunca procurei a maldade, desejo apenas o bem. Sinto que tenho sido atropelado todos os dias, sinto que dou valor demais a certas pessoas, que confio demais na minha intuição e me desiludo cada vez mais. E desiludo-me com as pessoas a quem me entrego, a quem dou tudo o que sou, faz-me doer a alma. Essas pessoas não sabem dar valor ao que sou, não querem perceber e não querem compreender que penso nelas a todo o instante, que me dedico de corpo e alma e apenas quero o seu bem.  Espero viver muito tempo e provar que um de nós agiu sempre de forma errada, que não soube valorizar o que de bom tem a vida. Não me isolo porque quero, sou escondido por quem me rodeia. Sinto revolta, as lágrimas já não caem dos olhos porque não tenho força para as derramar. Não quero ser especial para todos, gostava de ser especial apenas para duas ou três pessoas no Mundo, mas as pessoas preferem dedicar-se a outras coisas, pensando que amanhã ainda terão tempo para viver, para dar atenção. E assim, adiam dia após dia, ignoram o presente, pensando que no futuro ainda terão oportunidade de se redimir. No entanto, o tempo continua a passar e sinto que alguém se vai arrepender das decisões que tomou, que se vai arrepender por ter prefiro dedicar o seu tempo a algo que achou ser mais importante, que se vai arrepender por ter dito que isso seria apenas temporário, que era essencial dedicar os primeiros anos a algo em troca de um futuro melhor. E, se não houver futuro? E se tudo terminar mais cedo e não existir o amanhã? Para quê perder anos de vida e dá-los a quem não os valoriza, para quê destruir a vida, adiar objectivos e sonhos? Porquê apenas pensar no seu bem-estar, naquilo que gosta, e não pensar naquilo que juntos gostamos e podemos fazer em conjunto? Porquê ignorar quem te ama e quer saber de ti, simplesmente porquê? A dor aumenta cada dia que passa, a distância destrói-me, e destrói a nossa relação, os minutos e as horas que passam parecem uma eternidade, só me apetece fechar os olhos e apenas acordar quando voltares. Cada dia que passa é como uma bala que trespassa o meu corpo, é uma dor que se torna mais forte. Dizer que tens que ser forte nada resolve. As palavras nada resolvem, são precisos gestos, atitudes, marcas concretas, provas de afecto e amizade, mas onde estão elas? Até quando será possível viver com esta dor? E vejo tudo isto da minha janela, o mundo continua a girar, tudo continua a viver, e eu só quero uma vida normal que nunca tive.