Está sol, está chuva. Está calor, está frio. É isto que sinto cada dia
que passa, sentado no meu quarto e olhando janela fora. Admiro a paisagem, lá
no fundo vejo casas e serra. Na minha rua passam os vizinhos, as mesmas caras
conhecidas desde sempre. Cai a noite, as luzes iluminam as ruas e as casas.
Iluminam os caminhos, os destinos e guiam as pessoas pela escuridão. Como é bom
percorrer a noite, senti-la e observar as luzes lá ao longe. Dão-me uma
sensação de conforto, de casa, de paixão, de companhia. A solidão é o meu maior
inimigo, consome o meu interior, devora-me e não me permite saborear o
verdadeiro prazer da vida. A vida desilude-me, não me dá esperança, alento ou
futuro. Estou cansado de trabalhar e não ter o devido reconhecimento. De que
vale o esforço se ninguém o valoriza? É uma luta dura, desigual e dolorosa.
Para quê perder tempo a pensar, a agir e dedicar-me a algo que não sente o
mesmo. Estou sozinho, não tenho com quem falar ou estar, sinto-me ignorado por
todos, dói-me o peito, não consigo criar planos de vida, não tenho ninguém ao
meu lado. Sinto-me preso, isolado. As pessoas que me rodeiam parecem apreciar
coisas fúteis, dar valor a algo que não conhecem mas entendem valorizar,
esquecendo privilegiar e colocar em primeiro lugar, aqueles que lhes dão
atenção, carinho, presença e tempo. Chamam corajoso àqueles que têm tudo à sua
disposição, que se limitam a gerir o que já é seu. Olham para os outros e chamam-lhes
extraordinários, esquecem-se que deste lado existe alguém que luta todos os
dias contra o Mundo, que luta na procura de uma oportunidade, numa forma de
tornar a sociedade melhor. Sozinho não consigo mudar o Mundo, mas sei que dou o
meu melhor para tornar o Mundo melhor. Luto para deixar a minha marca no Mundo,
luto para concretizar sonhos, desejo e anseio pela mudança, procuro motivação
em palavras, procuro companhia no vazio, todos se afastam, todos ignoram.
Continuo a não ser o número um para quem devia. Continuo a ser deixado para
trás, espero que essas pessoas não se arrependam das suas decisões e atitudes.
Procuro a simplicidade da vida, não sou adepto de luxos. Nunca procurei a
maldade, desejo apenas o bem. Sinto que tenho sido atropelado todos os dias,
sinto que dou valor demais a certas pessoas, que confio demais na minha
intuição e me desiludo cada vez mais. E desiludo-me com as pessoas a quem me
entrego, a quem dou tudo o que sou, faz-me doer a alma. Essas pessoas não sabem
dar valor ao que sou, não querem perceber e não querem compreender que penso
nelas a todo o instante, que me dedico de corpo e alma e apenas quero o seu
bem. Espero viver muito tempo e provar
que um de nós agiu sempre de forma errada, que não soube valorizar o que de bom
tem a vida. Não me isolo porque quero, sou escondido por quem me rodeia. Sinto
revolta, as lágrimas já não caem dos olhos porque não tenho força para as
derramar. Não quero ser especial para todos, gostava de ser especial apenas
para duas ou três pessoas no Mundo, mas as pessoas preferem dedicar-se a outras
coisas, pensando que amanhã ainda terão tempo para viver, para dar atenção. E
assim, adiam dia após dia, ignoram o presente, pensando que no futuro ainda
terão oportunidade de se redimir. No entanto, o tempo continua a passar e sinto
que alguém se vai arrepender das decisões que tomou, que se vai arrepender por
ter prefiro dedicar o seu tempo a algo que achou ser mais importante, que se
vai arrepender por ter dito que isso seria apenas temporário, que era essencial
dedicar os primeiros anos a algo em troca de um futuro melhor. E, se não houver
futuro? E se tudo terminar mais cedo e não existir o amanhã? Para quê perder
anos de vida e dá-los a quem não os valoriza, para quê destruir a vida, adiar
objectivos e sonhos? Porquê apenas pensar no seu bem-estar, naquilo que gosta,
e não pensar naquilo que juntos gostamos e podemos fazer em conjunto? Porquê
ignorar quem te ama e quer saber de ti, simplesmente porquê? A dor aumenta cada
dia que passa, a distância destrói-me, e destrói a nossa relação, os minutos e
as horas que passam parecem uma eternidade, só me apetece fechar os olhos e
apenas acordar quando voltares. Cada dia que passa é como uma bala que
trespassa o meu corpo, é uma dor que se torna mais forte. Dizer que tens que
ser forte nada resolve. As palavras nada resolvem, são precisos gestos,
atitudes, marcas concretas, provas de afecto e amizade, mas onde estão elas?
Até quando será possível viver com esta dor? E vejo tudo isto da minha janela,
o mundo continua a girar, tudo continua a viver, e eu só quero uma vida normal
que nunca tive.